Poéticas Urbanas foi contemplado como projeto especial apoiado pelo Fundo de Arte e Cultura da Sec. de Cultura do GDF e prevê: oficinas gratuitas de poesia falada nos bairros do Distrito Federal; publicação do livro Entreaberta composto por textos do blog de Patrícia Del Rey; e estudos de performances feitos pela companhia para transformar em imagens o universo existente nos textos da atriz , que em sua maioria falam da cidade Brasília e da figura feminina.

Este estudo foi ensaido nas quadras do Plano Piloto em busca de intimidade com o concreto, com as janelas e com os passantes. O trabalho ainda em processo, são poesias vertidas em pequenas cenas de transição em uma linguagem mista de teatro e performance.
Não contaremos uma estória, contaremos passos pelas ruas da cidade.

FICHA TÉCNICA:


Concepção: Andaime Cia de Teatro
Direção: Tatiana Bittar e Márcio Menezes
Intérpretes: Ana Luiza Bellacosta, Kamala Ramers, Larissa Mauro, Márcio Menezes, Patrícia Del Rey e Tatiana Bittar
Músicos: Lucas Ferrari e Marília Carvalho
Vídeo Projeção: Hieronimus do Vale

Luz: Zizi Antunes
Direção de Arte: Roustang Carrilho
Design Gráfico: Maíra Zannon Ilha Design
Fotos: Diego Bresani
Assessoria de Imprensa: Bruno Mendonça
Produção: Andaime Cia de Teatro e Tainá Lacerda

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Canalha


“Beijei um canalha!” - ela disse de olhos fechados a si mesma no meio da madrugada. Nem nomes, nem poemas, nem perfumes. Apenas um corpo desconhecido e descabelado que introduzia sem pudor aquele gosto específico nos seus lábios secos. O sabor característico de uma espécie rara, quase extinta no mundo atual. o gosto de um canalha perfeito. Digo desses autênticos. Rodriguianos. Tradicionais. Escorregadios. Com a voz rouca, cara de carente e as mãos macias. Um canalha de marca maior... Num primeiro momento, além de surpresa com a descoberta, ela ficou extremamente excitada com a possibilidade de ser transportada para um novo lugar. ou melhor, um antigo lugar. Um lugar preto e branco. Nouvelle Vague com banquinhos e música francesa ao fundo. Não que ela fosse romântica, ainda mais com ícone desses ao lado, é que só conseguia imaginar tipos como esses nos filmes antigos.“Não é que canalhas existem?” pensou enquanto esboçava um semi-sorriso de canto de boca. Não que ela fosse masoquista ou maluca. Pelo contrário, a constatação de que havia beijado o tal moço fazia dela a mulher mais feliz do mundo naquela pista suada de sábado. Era como se ela tivesse dançando abraçada com a verdadeira identidade secreta masculina. O estereótipo que tinha sido alertada tantas vezes pela sua avó, pela vizinha fofoqueira, pelas revistas clichês. Ali, ao alcance das tuas mãos, um canalha! Bingo! Enfim, resposta certa! Nada mais de conversas doces, presentes doados ou um futuro delicadamente planejado. Mesmo porque, para os canalhas, o futuro não existe. O que existe é essa festa lotada, cheia de bocas e bundas, essa música gritando, a cerveja gelada no corpo quente. E cá pra nós, um homem desses não engana ou assusta as mulheres. Talvez garotas. Mas não mulheres. “Eu tenho medo dos cordeiros, e não do lobo mau.”, ela repetia nos dias de caçada. E o que é um canalha, senão um belo lobo mau? Ele escancara tua fome, pede cafuné e te garante uma noite deliciosa se você permitir. “Sim... Mil vezes sim...”; sussurrava ao pé do ouvido transformando seu canalha em presa. A música continuava alta, os corpos cansados dançavam e ela engolia lentamente seu par fora de moda. Carona, casa, quarto, cama, corpo, cansaço, canalha. “Qual era mesmo o nome dele? ”- ela tentava se lembrar, no dia seguinte, esbarrando com o sorriso apaixonado do moço ao lado, que insistia em dar mais um beijo depois de uma noite quente na cidade gelada. 

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