Estes textos foram escritos em oficina ministrada por Ana Luiza Belacosta e Kamala Ramers e são inspirados no texto Cimento Urbano de Patricia Del Rey.
Texto do Texto
Escrita automática
O toque, a falta dele. A fruta ainda com a casca, impossível de ser saboreada. A faca e o sumo escorrendo pelos braços, entre os dedos da minha mão. Os fluidos que escorrem pelas minhas pernas sem seu olhar atento. O gozo na frente do computador, o choro compulsivo ao final de um filme. O vinho saboreado em um jantar de velas sem companhia. O filho que vai embora. O gozo, o gozo, o gozo. Assistir à uma festa pela fresta da cortina. O branco da parede, o branco da cozinha, o branco da calçada que mancho com meus sapatos sujos. Um só travesseiro em uma cama de casal. Carros vazios, cervejas quentes corpos frios.
Mito Pessoal
Quando eu cheguei tinha 19 anos e pensei que seria feliz de cara, assim que colocasse meus pés na cidade das árvores. Nunca achei a cidade cinza, a encontrava verde e acordava sempre com o canto dos pássaros.
Mas quando aqui construí morada, percebi que o cinza de fato se agigantava, as autopistas eram intermináveis e eu não tinha carro, não poderia então cruzar esta enorme distância entre dois pontos: eu e o encontro. Dois pontos distantes. Fiz novos amigos: sorvetes de chocolate e de manga. O cigarro era o amigo mais próximo, tinha vindo do interior e gostava de morar comigo.
Pensei então que a cidade me enganara, que fingiu pra mim ser vento e verde e de passo largo e macio. Que farsa! Seu chão duro e quente gastou até o osso a sola dos meus pés, meu abraço ficou vazio e nas noites de festa Al Pacino admirava meu sorriso através da tela da televisão.
Por Tatiana Bittar
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